Os vinhos que transformaram o Brasil em uma das vitrines do refinamento no mundo dos vinhos.
Pedro Mello e Souza
Para alguns vinhos, o novo ano é promessa de novas safras e antigas tradições – e, por mais que sejam conhecidas, sempre surpreendem. Alguns dos grandes rótulos da atualidade empenharam suas agendas com um esforço especial: apresentar essas novidades ao Brasil, um mercado que se tornou chave pela sua evolução, tanto na mesa quanto na carteira. O resultado foi um calendário que chegou em inglês, em francês, em castelhano, em italiano, agendados por personagens que contribuem com a história do vinho, mas que, em alguns casos, jamais tinham descoberto as Américas, como no caso de Marc Rochar, do Château Musar, ou de Nicole Snozi, da Laurent-Perrier. Mas diferentes daqueles que já tinham o Brasil como destino certo de suas marcas, como a Pio Cesare e a Almaviva.
Alma (sempre) Viva
Se cantaram por toda a parte é porque a tanto lhes ajudaram o engenho e arte. E arte não falta a uma joint-venture em que estejam presentes as tradições e o savoir-faire dos barões Rothschild, que montaram uma das maiores lendas do Novo Mundo desde o Julgamento de Paris: a Almaviva, em parceria com a Concha y Toro. Todas as merecidas pompas e circunstâncias, bem conhecidas no Brasil, ganharam, em São Paulo e no Rio de Janeiro, uma degustação histórica: uma vertical com seis safras emblemáticas, que mostraram colheitas distintas e a progressiva transferência da cultura para o mundo orgânico. Em comum a todos eles, a elegância, a estrutura e, especialmente, a acidez soberba e os taninos vibrantes, um dos fatores da longevidade, inclusive nas safras de 1998 e 2001. Ou nas mais novas, como as safras de 2005, 2007 e 2009, as mais novas da degustação, que já chegam ao mercado medalhadas por notas 95, 93 e 96, respectivamente, segundo Wine Spectator, que seguiu as pontuações de Robert Parker, o crítico que se tornou vetor de bons investimentos para o mercado futuro dos bons copos. Estes, inclusive.
Alexandra
Foi um evento simultâneo em sete países no mundo. O Brasil foi um deles. E o Rio foi escolhido para o lançamento mundial da cuvée Alexandra, um champanhe rosé do mais alto extrato da Laurent-Perrier. Para quem já conhecia a fineza da cuvée Grand Siècle, a fineza do rosé pode não ser surpresa, mas é encantador. “Alexandra é um rosé de cinco anos de maceração, não de assemblage, como costuma-se fazer na região, e requer uma qualidade superior das uvas”, explicou Nicole Snozzi, embaixadora da maison, a respeito do vinho, que combina uma parte de chardonnay para quatro partes de pinot noir, que transmite a estrutura, as notas frutas (e flores) vermelhas e uma grande personalidade de nariz e boca. O rótulo é uma homenagem a uma das filhas de Bernard de Nonancourt, que casou-se na época do lançamento da safra de 1987 e batizou o rótulo, que chega ao Brasil em sua edição comemorativa, em estojo de madeira, pela importadora Inovini.
O 100 da Fonseca
Veremos Portugal disputando mais uma de suas muitas copas. Formalidade, já que, em muitos copos, não há disputas. É caso da Casa Fonseca. Poucos rótulos colecionam tantas notas máximas, os cobiçados 100 pontos do crítico Robert Parker, quanto as séries dos vintages de portos da vinícola. Mas a festa de suas conquistas não abalam a garra de seus proprietários. Um deles, Adrian Bridge esteve no Brasil para comandar, pessoalmente, uma degustação vertical de safras históricas, em evento que só acontecia na Inglaterra ou na França. E trouxe na bagagem um dos rótulos que valeram à Fonseca uma exclusividade: é a única a conquistar (e foram quatro vezes) os 100 pontos pela revista americana Wine Spectator, que elegeu a safra de 1994 como a melhor de sua lista, em 97. Generoso e poderoso, redondeza e largueza, com todos os aromas regulamentares, como o café e o cacau – ou menos, mas igualmente encantador, como o caramelo ao sal.
Altíssima gama
Conheçam Giulio Ferrari. É um artesão de spumante superior a grandes referências de Champagne e que já bateu grandes cuvées de marcas como Krug e Pol Roger. Não é tarefa fácil para um vinho da região do Trentino, norte da Itália, mas preparado com o método clássico, que proporciona um vinho de elegância e equilíbrio, de estrutura impecável, sem qualquer aresta, sem qualquer amargor, e com nariz e boca de puro caráter champenois, com seus brioches e leveduras quase no dente, reflexos da autólise, que, explicaram, resulta de quase 12 (sim, doze) anos de exposição a mostos e levedos. É como queria Giulio Ferrari, que não tinha relação com a marca de automóveis, mas que montou uma igualmente cobiçada grife do mundo dos espumantes, que passa, agora, a integrar o círculo exclusivo da “Fondazione Alta Gamma”, uma série de produtos italianos de altíssimo padrão, ao lado de referências como Bulgari, Fendi e Versace.
Fides na mesa de Pio
Nos últimos três anos, ele esteve no Brasil pelo menos quatro vezes. Ou três, se contarmos um voo da época que um vulcão na Islândia impediu a Europa de decolar. Mas Pio Boffa é renitente e um dos produtores mais entusiasmados com o Brasil. Um dos vinhos que sempre está na sua mesa de degustação é o Fides, que a revista inglesa Decanter acaba de colocar como um dos melhores de 2013. Vibrante e corpulento como todos os barberas são, não importa a idade. E trazem sempre as suas notas equilibradas de barricas e taninos e suas notas de baunilha e maciez na boca. O premiado foi o 2010, que chegou agora. Na época, provou-se o 2009, já complexo, com aromas que iam das frutas ao chocolate.
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